Debate sobre comunidades digitais marca o segundo dia da SPP 2022
- Fernanda Filiú
- 21 de nov. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de mai. de 2023
Programação desta quinta (3) da Semana de Publicidade e Propaganda da UFC também contou com roda de conversa sobre as disputas narrativas das campanhas eleitorais para governo do Ceará com o podcast As Cunhãs e oficina de Identidade Visual para Campanhas com Rui Monteiro, designer da campanha da candidata à deputada federal Maya Eliz.
Por Fernanda Filiú*

Da esq. para dir. José Bruno Lima, José Maria Monteiro e Cé da Silva/ Imagem: Lóren Caroliny
A 9ª edição da Semana de Publicidade e Propaganda (SPP), promovida pelo Programa de Educação Tutorial de Comunicação (PetCom) da Universidade Federal do Ceará (UFC), encerrou o segundo dia de sua programação nesta quinta-feira (3). O evento proporcionou discussões acerca do funcionamento das comunidades digitais no cenário político nacional e as disputas narrativas nas campanhas para o governo do estado do Ceará por meio de mesa de debate e roda de conversa.
A programação desta quinta-feira teve início com a mesa “Comunidades Digitais: Como os políticos interagem nas redes”. Mediada pelo professor do curso de Publicidade e Propaganda, Cé da Silva, o momento contou com a participação de José Maria Monteiro, coordenador do Farol Digital e docente do curso de Ciência da Computação da UFC e José Bruno Lima, publicitário da campanha da liderança indígena recém-eleita deputada federal pelo estado de São Paulo, Sônia Guajajara.
Em seu discurso, José Maria Monteiro abordou a maneira como grupos de extrema direita atuam nas redes. Através de mapeamentos realizados pelo Farol Digital, projeto que coordena, o professor explicou como ocorre a interação desses conglomerados e suas táticas de compartilhamento de conteúdo e cooptação de públicos.
“O discurso desses grupos é sempre muito simples, muito fácil de entender. É um diálogo multifacetado. Tem-se uma mensagem para cada grupo. Não existe um discurso único. É um discurso semelhante, mas adaptável”, disse o pesquisador.
Além de apontar as principais estratégias comunicacionais das comunidades digitais de extrema direita, José Maria apresentou aos presentes a estrutura organizacional desses coletivos. “A pauta é centralizada, única. Os grupos de WhatsApp, por exemplo, funcionam como uma pirâmide. Os de cima produzem conteúdo, que vai para um grupo um pouco mais seleto e chega nos grupos públicos e dos grupos públicos vão para os grupos de família”, explicou.
Ainda em sua fala, o docente pautou a existência de uma automação para a distribuição em massa de conteúdos por membros dessas organizações. Apesar de atualmente se espalharem organicamente, esses grupos não agem sem sistemas e mecanismos de computação, sendo esses fundamentais para seu sucesso.
Já José Bruno Lima relatou sua experiência como coordenador de conteúdo da campanha da candidata eleita à deputada federal pelo estado de São Paulo, Sônia Guajajara. Durante 4 meses, o publicitário trabalhou com a construção da imagem política da liderança indígena.
Apresentando estratégias e exemplos de marketing eleitoral, José Bruno mencionou a relevância de identificar e direcionar a produção dos conteúdos para as redes e para as ruas a partir da realidade política dos candidatos. “Nenhuma das 5 candidatas da Bancada Feminista, por exemplo, eram grandes influenciadoras. Elas não tinham um grande engajamento, mas as cinco tinham uma base política muito grande. Elas não tinham força nas redes sociais, então fizeram uma campanha baseada no campo, iam para as ruas (...) E conseguiram ser eleitas”, exemplificou.
O publicitário também relembrou a dualidade tempo x conteúdo e sua importante aplicação em pronunciamentos e campanhas na mídia. “O tempo é importante, mas ele não determina nada (...) Quando trabalhamos com as personalidades, que não deixam de ser uma marca, precisamos ser muito certeiros no que vamos postar”, afirmou o palestrante.
As disputas narrativas nas campanhas para o Governo do Ceará
O segundo dia da programação também contou com roda de conversa sobre as disputas narrativas das campanhas políticas no estado do Ceará com o podcast As Cunhãs.

Conhecidas pelo seu podcast semanal sobre política cearense e nordestina, As Cunhãs deram continuidade às discussões sobre a propaganda e o cenário eleitoral em 2022. Inês Aparecida, Hébely Rebouças e Kamila Fernandes, com mediação de Soraya Madeira, professora do curso de Publicidade e Propaganda da UFC, debateram sobre a construção narrativa da política no Ceará.
Em sua fala, Kamila Fernandes ressaltou a importância da análise das narrativas por olhares locais. Valorizando a diversidade na produção de conteúdos de política, a podcaster comentou a relevância e impacto de projetos autônomos para a construção de uma variedade de fios narrativos ao redor do Brasil.
“Nós temos ouvintes que nem moram no Ceará (…) Tem pessoas que querem fazer projetos em seus estados baseado no nosso projeto. É a partir disso que começa a multiplicar e transformar e a gente para de querer só engolir conteúdo pronto e nacional que conta uma narrativa única”, disse a jornalista.
Contextualizando a história da política local e apresentando suas principais figuras, Hébely Rebouças e Inês Aparecida explicaram como as disputas narrativas e a criação de identidades foram uma problemática para alguns candidatos ao governo do Ceará. Para as jornalistas, esse fator auxiliou no resultado das eleições para governador do estado, que se encerraram em primeiro turno.
“Elmano foi eleito no primeiro turno, para a surpresa até deles mesmo, e isso se deve muito à essa história, à essa narrativa bem construída por eles”, afirmou Rebouças. “Já passei muitos anos na cobertura de política e trabalhei com assessoria de candidatos, e é isso, você tem que ter uma identidade”, completou Inês.
Oficina de Identidade Visual para Campanhas
Também nesta quinta-feira (3), foi ofertada a oficina “Identidade Visual para Campanhas”, ministrada remotamente por Raul Monteiro, designer da campanha da candidata Maya Eliz. O oficineiro conversou com estudantes do curso de Publicidade e Propaganda da UFC sobre o processo de criação, organização e produção para uma boa IDV.

A oficina finalizou a programação do 2° dia da IX SPP/ Reprodução
* Fernanda Filiú é aluna de Jornalismo da UFC e bolsista do PETCom
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